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“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita”.
Mahatma Gandhi

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Do equilíbrio à popularidade

Na terceira matéria da série sobre a Era Lula, O POVO discute os erros e acertos do presidente que deixa o poder com aprovação popular na faixa dos 83%. Hoje, discute-se o tom de acerto dos oito anos do petista no Palácio do Planalto




Despedir-se do Palácio do Planalto com 83% de aceitação popular expõe pelo menos dois aspectos sobre a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O primeiro, quase óbvio, é de que há méritos, vários. Porém, para alcançar e manter o recorde de fama, muita coisa deixou de ser feita. Em algumas situações, Lula tornou-se refém da própria popularidade – e errou.

Com ajuda de especialistas, O POVO faz um balanço dos oito anos do governo petista, começando, hoje, pelo que supostamente deu certo. Amanhã é a vez de cientistas políticos apontarem possíveis equívocos, omissões e ambigüidades deste que sai do poder como o mais bem avaliado presidente entre todos os eleitos pelo voto direto, pós-Regime Militar.

O caminho do meio
Em 2002, ano da primeira vitória de Lula nas urnas, a militância petista bradava que a “esperança” vencera o “medo”. Havia temores sobre a responsabilidade política e, sobretudo, administrativa do ex-torneiro mecânico e líder sindical nordestino que prometia governar, principalmente, para os mais pobres.

O risco Brasil foi às alturas, o mundo olhava o País com desconfiança. Hoje, no entanto, o panorama é outro. “Lula manteve os contratos e deu um choque de confiança no mercado internacional, aliando isso à redução da desigualdade interna”, explica o economista e coordenador do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Néri.

O suposto equilíbrio entre “a cifra e a égide humana”, entre o crescimento econômico e o desenvolvimento social, é considerado, pelos especialistas ouvidos pelo O POVO, um dos mais relevantes acertos da era Lula. Para o cientista político Valmir Lopes, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o líder petista chega a inaugurar uma “nova fase do capitalismo” brasileiro, baseada na inclusão social por meio do consumo, “algo inimaginável para o pensamento da esquerda”, segundo Lopes.

Eis o que os números apontam. O crescimento médio da renda per capita no País foi de 2,9% ao longo do mandato do petista; enquanto, de 1981 a 2002, a taxa ficou em 0,3%. E para quem pensa que o poder de compra da população só aumentou por causa de programas assistencialistas como o Bolsa Família, o economista da FGV alerta: foi a geração de emprego e a chamada “renda do trabalho” que mais contribuíram para a diminuição da pobreza.

Ao mesmo tempo em que a população passou a ter mais dinheiro – cerca de 20 milhões de pessoas saiu da condição de miséria –, o Brasil também deu saltos no ranking da economia mundial, passando da 12ª para a 8ª posição. Poderia ter avançado mais, tais como outros emergentes? “Sim, mas apesar de não termos crescido como China ou Índia, por exemplo, crescemos com qualidade, com inclusão. Lula foi feliz ao escolher o caminho do meio”, opina Marcelo Néri.

Harmonia
Em certa medida, tais feitos foram alcançados sem, necessariamente, grandes acirramentos entre classes sociais. Para a também cientista política da UFC Rejane Vasconcelos, “o atendimento de demandas populares não foi incompatível com os interesses do setor empresarial”. A consolidação do mercado interno favoreceu empresas de pequeno e médio porte. “Não houve grandes acirramentos, conflitos, mas uma harmonização”, constata.

Talvez, por isso, Lula descerá a rampa do Planalto com consideráveis 67% de aprovação entre os mais ricos, conforme mostra pesquisa Datafolha. Entre os menos abastados, a aceitação decola para 84¨%.

NÚMEROS

1,1% DO PIB
Foi a variação registrada pelo principal índice da economia no ano de 2003

7,5% DO PIB
é a projeção de crescimento feita pelo Fundo Monetário Internacional para 2010

2,9% DE CRESCIMENTO
Registrou a renda per capita dos brasileiros entre os anos 2003 e 2010

0,3% DE CRESCIMENTO
Teve a renda per capita do brasileiro no período entre 1981 e 200

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