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“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita”.
Mahatma Gandhi

domingo, 26 de dezembro de 2010

Noelula

João Soares Neto - escritor

O Natal chegou e Luiz Inácio da Silva, que agregou o Lula a seu nome, está saindo da presidência do Brasil, após oito anos em que foi ele próprio a maior agência de propaganda do que realizou ou deixou em construção. Se alguém, na virada do milênio, perguntasse aos "brazilianists", os que, sendo estrangeiros, se dizem especialistas em Brasil, se um torneiro mecânico e sindicalista seria presidente e fenômeno de popularidade, certamente zombariam e, com frases complexas, provariam o contrário.

Se qualquer brasileiro, considerado machista, fosse indagado no início dos anos 2000 se votaria em uma mulher descasada e em fase de recuperação de doença séria, responderia: claro que não. O fato é que estamos a menos de uma semana da mudança de governo. Sai Lula, verdadeiro Noel para a grande maioria dos brasileiros que elegeu, por sua conta, Dilma Rousseff. Para ele, pernambucano/paulista, estava reservado papel complexo: substituir o carioca/ paulistano Fernando Henrique Cardoso, político veterano, professor universitário, poliglota e articulado.

Pois bem, no sol de 01 de janeiro de 2002, surge no Rolls-Royce, na Esplanada dos Ministérios, o filho da D. Lindu, retirante abandonada pelo marido que se mandou de pau-de-arara para a periferia de São Paulo. E o seu filho acenava com a cara do Nordeste ainda marginalizado. Trazia na sua história pessoal a lembrança da forme. E disse: todo brasileiro tem direito a comer três vezes ao dia. Falava o óbvio, mas dizia o que vivera e prometeu. Acelerou os programas assistenciais que forjaram a sua popularidade. Falando a linguagem do povo, colocando-se até como opositor a seu próprio governo, reclamava da falta de comida, luz, água e casa. É claro que o Lula de hoje é um "globotrotter". Soube entranhar-se sem medo, ir a lugares fechados para os não doutos e conseguiu mostrar que o Brasil não era só exotismo e futebol. Queria ser protagonista da nova história do século 21 auxiliado por intérpretes lutando para traduzir suas frases acompanhadas de gestual comunicativo com sisudos e emproados chefes de Estado. Por tudo isso, Lula é o Papai Noel do Brasil, até na barba.

Fonte: Diário do Nordeste

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